Daniel

Eu deito e fico acordado
Penso e tento entender o passado
Acho que tudo veio muito rápido,
Mas vivo questionando os atrasos

Dizem-me pra mudar
Tentar sair desse rumo
Outro mais me valerá,
Mas eu teimo em continuar

Deitado eu rolo, eu penso
Eu penso em tentativas,
Em dinheiro, em heranças divididas,
Mas logo penso em dívidas

Vem lembranças, e assim às vezes choro
Noutros momentos alegro-me,
Pois vem tanta coisa na cabeça
Coisa boa e coisa com que eu me aborreça

Enfim sem sono, eu ligo a luz
A visão reclama, mas eu não quero ir pra cama
A cama é quente
E eu já virei muito o travesseiro

No banheiro olho nos olhos
Pequenos e vermelhos no espelho
Procuro algo pra fazer, não encontro,
Mas ainda tento, eu teimo

Após repetir o tentar e o teimar
Eu acabo indo
Volto pra cama,
Mas não vejo o sono vindo

No dia e nos dias anteriores
Ouvi meu pai dizendo:
Dormir à tarde vai te prejudicar
E o fato é que eu sei, mas finjo que não entendo

Quarto. Lugar de refúgio ou esconderijo?
Eu passo horas, acordado ou dormindo
Achando que o tempo passa rápido,
E fico vendo um futuro maldito

É bom às vezes temer o futuro
Faz com que esse meu ego temerário
Mude ou volte ao rumo
Pensar aqui é melhor que apanhar do mundo

Mas questiono-me:
Quando haverei de acordar
E lavar a cara depois de olhar no espelho?
O mundo não espera, eu cresci, eu vejo

É bom estar aqui
Os leões estão lá fora, eles não vou embora
Tenho que os enfrentar, tenho que ir
Até quando vou resistir, ou quando da cova vou sair?